O presidente do Banco BPI, Fernando Ulrich, admitiu hoje a sua perplexidade face ao elevado financiamento que o BES deu ao BES Angola, durante anos a fio, considerando que, sem esta questão, poder-se-ia ter evitado a intervenção do Banco de Portugal.
Em “dezembro de 2007, o BES [Banco Espírito Santo] tinha um crédito sobre o BESA [BES Angola] de 25 milhões de dólares [cerca de 19,7 milhões de euros]. Era uma situação perfeitamente normal. Mas em 2008 essa exposição subiu para mais de dois mil milhões de euros”, afirmou Fernando Ulrich na apresentação de resultados do Banco BPI, em Lisboa.
Ulrich realçou que, desde então, “a exposição do BES ao BESA foi subindo até mais de quatro mil milhões de euros” e que se manteve constantemente em níveis muito elevados.
“Não se pode chamar a isto um apoio de tesouraria como se fosse uma coisa normal, ainda mais, quando o credor controla a maioria do capital do devedor”, sublinhou.
Segundo o líder do BPI, “se não houvesse esta situação do BESA, apesar dos outros problemas, o banco [BES] poderia ter tido um caminho autónomo no sentido da recuperação”.
E reforçou: “Como foi possível um banco em Portugal ter durante tanto tempo um crédito tão grande a uma participada onde tinha a maioria do capital?”.
O responsável acrescentou que considera “extraordinário” que “o lado português” tenha permitido uma exposição de crédito “tão grande durante tanto tempo”.
Ulrich vincou que não compreende “como é que as várias entidades, desde logo, o Conselho de Administração do BES, deixaram isto acontecer”.
E desabafou: “Aparentemente, ninguém ligou”.
O presidente do Banco BPI falou ainda do recente acordo estabelecido em Angola para resolver a questão da garantia estatal angolana concedida ao BESA.
“A sensação que tenho é que as autoridades angolanas se inspiraram na intervenção portuguesa no BES para a sua intervenção no BESA”, revelou.
De resto, Ulrich admitiu que o BPI é um dos bancos portugueses que tem beneficiado com a transferência de recursos de clientes do Novo Banco para outras instituições financeiras que atuam no mercado português.
“Vários bancos a operar em Portugal têm beneficiado da transferência de recursos de clientes do Novo Banco para eles e, claro, que o BPI é um deles”, admitiu, considerando que esta situação é normal.
“Quando um banco passa ao estatuto de banco de transição é normal que muitos clientes, até por razões emocionais, prefiram passar a trabalhar com outros bancos”, frisou.
E acrescentou: “O BPI tem beneficiado com isso, mas não vou quantificar”.
Ulrich sublinhou ainda que, a seu ver, “têm sido empoladas as consequências” da crise no BES na economia portuguesa.
A análise de Fernando Ulrich deve ser sempre levada em conta. Ou nem por isso. Veja-se o exemplo da sua credibilidade analítica. Em 29 Outubro de 2011 dizia que a “entrada do FMI em Portugal representa perda de credibilidade”. A 26 Janeiro de 2012 garantia que “Portugal não precisa do FMI”. Em 31 de Março interrogava-se: “Por que é que Portugal não recorreu há mais tempo ao FMI?”
Registe-se também que o presidente do BPI, banco presente em Angola desde 1996, dizia que não havia corrupção no nosso país. Em 2008, numa entrevista ao Diário Económico, Fernando Ulrich considerou que as declarações polémicas de Bob Geldof “não têm sentido nenhum”.
Questionado sobre a polémica à volta das declarações de Bob Geldof, que num evento promovido pelo BES em Lisboa disse que “Angola é um país gerido por criminosos”, Ulrich foi aos arames e disse que as declarações “não têm sentido nenhum”.
Fernando Ulrich dizia que a experiência do BPI em Angola não mostra um país corrupto. Tinha toda a razão. O país não é corrupto. Corruptos são os que (des)governam o país. Aliás, Geldof falou de um país gerido por criminosos e não de um país criminoso.
“O BPI nunca pagou nada a ninguém para obter nada em troca como nem nunca ninguém nos pediu nada para fazer o que quer que fosse em troca”, disse ao “Diário Económico”.